segunda-feira, 29 de março de 2010


Houve um tempo em que me bastava a lembrança do reflexo do sol nas águas para tê-lo concreto em minha memória, em outro tempo precisei senti-lo para sabê-lo real, noutros bastava fechar os olhos e a sonoridade das ondas rebentando na praia diriam o resto...

Cada momento um mar diferente, cada tempo um eu diferente esperando respostas de um oceano mudo... Quantas perguntas e incertezas pairavam sobre um céu de água.

Quando partir? Quando voltar?

E eu tendo apenas a certeza de que as ondas permaneceriam sempre, independente do meu destino.

Cada mergulho era a sensação de voltar ao passado, de acolher as emoções que se foram.

O mar me transformava em ilha. Eu, que nunca fui sozinha por não saber sê-lo!

As águas me permutavam em peixe e sonho; e eu querendo reter tudo o que me ligasse àquela liquidez inconstante.

Um dia desisti de possuí-lo como um objeto meu, o mar era mais que uma meta, era um tipo de personalidade que só se reconhece com o passar dos anos.

É como pessoas que por mais que se observe por séculos só é possível se ver a superfície, bela para uns, perigosa para outros.

Sempre murmurando alguma coisa, pode ser um consolo para os solitários ou uma tormenta para os navegantes.

Toca o céu mas se perde onde nenhum homem jamais pisou - seu coração abissal.

Pode matar a fome de uns e matar de sede a outros.

Retém em suas entranhas mais lendas, encantes e mistérios do que realidade.

Destrói com a mesma facilidade e indiferença com que cria vida.

Ao comando das marés, pode chegar ou partir, permanecer jamais...

Sem comentários: